Aqui embaixo os automóveis são deuses
Em um milagre de mãos humanas, brilham
Criam asas sem sair do chão, voam
No asfalto, no barro, nas montanhas
Numa repetição do velho testamento
Pedem sacrifícios, crentes fieis
Todos os dias todas as horas e minutos
Nos quatro cantos da terra exigem sangue
Que os humanos doam cegamente
Quanto brilho nos automóveis
Quanta alegria para minha alma
Quantos orgasmos para meu deleite
O meu é Honda, o meu é Ford
O meu é Renault, O meu è Fiat
Diz o professor na corda bamba
E o novo rico de sua nova Igreja
Diz, o meu é uma BMW, e o velho rico
De seu alicerce em ruínas, declama poeta
Minha Ferrari tem o poder de deusas
Acima do Tibete e do Olimpo.
Que máquina fantástica!
Me descansa as pernas
Me leva ao infinito, de estradas e de sonhos
Excitam os amantes, qual cio de gatos
Unifica sensações na Europa, nos Andes
No Alaska, em Joanesburgo, em Luanda
Em Pequim, no Recreio e na Rocinha
Entre os seguidores de Maomé, de Cristo
Do Candomblé e dos Budistas. Deus Supremo.
Deuses, em seus presépios protegidos
Nos palácios sauditas, ingleses, quartéis
Ranchos, casebres até palafitas,
Enquanto humanos aos milhares
Resistem no tempo aberto, no sol
No frio, na enxurrada, e tempestades.
Mas humanos não são deuses.
São apenas humanos.
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