"(...) Sou outro quando sou,
Os atos meus são mais meus se são também de todos
Para que eu possa ser, hei de ser do outro
Sair de mim, buscar-me entre os outros
Os outros que não são se eu não existo
Os outros que me dão plena existência
Não sou, não há eu, sempre somos nós".
(Octávio Paz)
Em uma posição diametralmente oposta a determinadas abordagens, não acho razoável compreender a autogestão como essa categoria política que, quase de forma totalitária, visa anular o diverso, uniformizar, a todo e qualquer custo, as imensas nuanças que marcam o mundo do trabalho.
O princípio clássico "sem patrão e sem empregado", compreensão axial e que historicamente marca o debate em torno da autogestão, não pode ser confundido, tampouco entendido como desordenamento, caos ou espontaneísmo de classe.
Penso que o princípio seja exatamente o contrário.
Deve-se partir da compreensão de que são as diversidades polifacetadas que marcam as relações. São as multiplicidades de formas, significações e símbolos que, por fim, caracterizam e mediatizam as relações dos e entre os homens.
Em outros termos ou dialoga-se com o plural que, inexoravelmente, marca a existência, buscando, desta forma, a construção de consensos e unidades, ou o não-reconhecimento dessa dimensão sinaliza para o próprio esvaziamento e redução da autogestão.
Não acho pertinente sinonimizar AUTOGESTÃO e UNIFORMIZAÇÃO. Pelo simples fato de não ser possível, pelo menos no instante histórico em que se encontra a classe trabalhadora, a idéia da una-forma. Compreendo esta una-forma como ideal, como porvir, como objetivo a ser alcançado.
Prefiro a idéia da construção de unidades. E como estratégia, tendo-se em vista as imensas fragmentações da classe do trabalho, propõe-se unidades de ação para, em seguida, e em conformidade com o protagonismo e desempenho histórico dos trabalhadores, a efetivação de unidades orgânicas.
Abraço do Ângelo Cavalcante
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