sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Quem sorri!?


Quem sorri!?
Que tipo de gente pode achar graça e prazer nos tais rodeios?
Pode haver espetáculo mais aberrante?

Cristo... Onde está a beleza disso?
Que tipo de mente se vê feliz em uma situação em que seres humanos(?) se lançam a, violenta e absurdamente, torturar seres reconhecidamente dóceis?

Rodeio é um enorme erro. Trata-se de um invento estúpido saído de alguma mente evidentemente falida e insana e consiste em encerrar em uma espécie de arena, animais mansos, amigos e tenros, para serem submetidos a toda sorte de mal-trato por determinada espécie de homem.

Vejamos...
Um boi é um ser vivo, possui quatro patas e, chega a ser, irritantemente, manso. Em que pese o seu enorme corpo, é meigo. Ele, como eu ou você, chora, sorri, gosta de carinho, sente sono, cansaço, namora, brinca e têm parentes.
O boi é possuidor de uma mansidão tal que uma única criança de oito anos é capaz de tanger um rebanho inteiro. São, desde tempos pré-históricos, vegetarianos e são bem conhecidos por produzirem arrotos e flatulências.

Pois bem, estas criaturas são, antes de entrarem no inferno da arena, queimadas com iniciais de um alfabeto, talvez saído do inferno. São provocados à exaustão com choques e pancadas, para que possam, por fim, se tornarem "demônios raivosos", o que definitivamente, não são.
Amarrados violentamente, são jogados em gaiolas sob rodas, onde seguiram, sob sol, chuva e vento, por milhares de quilômetros.
Passam fome, sede e se cansam.
Lá chegando são, de novo, provocados para o "grande momento". Em cena, evitam quaisquer tipos de correrias ou confrontos, por isso sempre os vemos encostados nas cercas.
Ficam quietos, tristes e solitários, olham ao redor, querem apenas um pouco de paz. Mesmo "preparados" para o confronto, nada querem com o bicho-homem. Qual nada! Do outro lado, a patuléia urra insana por espetáculo.
O peão, pobre peão, um infeliz mal-pago por uma coisa humana chamada latifundiário, dá um rasante violento sobre o dorso do animal, fincando-lhe duras esporas nas virilhas.

Dor, dor, muita dor...

Como reação, é claro, o animal tenta se livrar daquele que o tortura, por isso os balanços, os pulos, os solavancos. Mas o povo quer mais! Vibra, grita, sorri e um outro miserável ao microfone grita: Seguraaaaa peão!
Como a crueldade humana não tem limites, tem-se, ainda, um relógio que conta o tempo da dor do animal. É assim: Quanto mais dor o peão conferir ao animal, mais pontinhos terá.

Não é lindo!???

Que beleza há nisso? Me digam... Que beleza pode existir em tal COISA?

O rodeio é, antes, uma negação da razão humana. É um demérito ao pensamento e as melhores criatividades do homem. É feio, mal, aviltante e desumanizador.

Curioso é o fato de rinhas de galo serem crimes e os malditos rodeios, não! Não consigo entender!?

Eu odeio rodeios e odeio mais os que o promovem. Suas caminhonetes, seus latifúndios, suas cercas e suas monoculturas feitas a partir de fundos públicos. Sua cultura plástica e descartável, seus diálogos hierarquizantes e monotemáticos.Seu ridículo requinte faz agonizar a paciência do mais santo dos homens. Definitivamente, vomito em seus deuses (o capital e a exploração).
Odeio seus "cantores sertanejos" que entoam suas miseráveis lamúrias de morte, buscando associar a fecunda e misteriosa vida animal advinda do campo com pseudo e fugidias sentimentalidades do tempo presente. Odeio!

De novo, odeio os que promovem estes encontros de morte.
Detesto também os que lá se fazem presentes. São feios, mal-educados, falam mal e jamais leram um único livro na vida. Destroem a vasta e poética língua de Camões, desconhecem direitos humanos e direito dos animais lhes é algo inimaginável. Possuem sotaques carregados, grosseiros e bairristas. Vestem-se mal, são espalhafatosos e cronicamente desinteressantes. São, em geral, extremamente reacionários, preconceituosos, machistas, atrasados e homofóbicos. Representam, por fim, o que existe de pior na, já atrasada, sociedade brasileira.

Finalmente e, lamentável, toda esta gente, representa como classe, a mesma simbologia ética e moral que, um dia, alimentou e deu vida para um monstro saído da mais fétida e abissal lama, e que se chama... nazismo.

Eu odeio rodeios.

2 comentários:

Seminário Comunicação e Cultura disse...

Ângelo, muito bem concatenada a relação rodeio, latifúdio e nazismo. Trazes elementos progressivos no texto que não há como concluir a leitura do mesmo sem um mínimo de indignação.

Lourdes Silva

Anônimo disse...

Ãngelo,

Seu texto nos remete a pensar a condição humana que nos encontramos. Qual seja: a falta de humanidade.
Vivemos num mundo que nos instiga, nos aprisiona, nos desumaniza.
Tenho raiva de rodeio e também da falta de compaixão com os animais, as plantas, o planeta.